Conforme prometido, o “Do Outro Lado da Cerca” desta semana continuará cobrindo os consoles 8 bits da SEGA. Desta vez, é finalmente a vez do Master System) ou SEGA Mark III, no Japão)!
SEGA Mark III
O SEGA Mark III foi lançado pela SEGA no Japão em 20 de Outubro de 1985, para competir com o Famicom (NES), da Nintendo, já que seus sucessores, o SG-1000 e o SG-1000II não haviam conquistado o sucesso necessário para tal tarefa. O Mark III tem uma plataforma bem parecida com a do SG-1000II, mas com melhor hardware de vídeo e mais memória RAM, sendo inclusive retro-compatível com este. Assim como o SG-1000II e o Famicom, seus controles foram projetados para serem guardados nas laterais do console, além de manter a porta de expansão de seus antecessores, que mais tarde seria utilizada para FM Sound Unit. O Mark III ainda contava com uma saída A/V DIN de 8 pinos, que se tornaria padrão da SEGA até o Mega Drive.
Como mencionado acima, o Mark III é 100% retro-compatível com os jogos para SG-1000, e tem além do slot de cartuchos, um slot para os SEGA Cards. Os cartuchos do Mark III tem exatamente o mesmo formato dos cartuchos para SG-1000, sendo diferenciados apenas pelo rótulo. Os controles de ambos consoles são intercambiáveis.
O Mark III é tecnicamente superior ao console da Nintendo, podendo exibir o dobro de cores simultâneamente, e seu processador é quase duas vezes mais rápido que o do seu competidor. Mas infelizmente assim como ocorreu com seus consoles anteriores, a SEGA não conseguiu garantir um suporte significativo de outras empresas para desenvolver jogos para o seu console. No momento do seu lançamento, a Nintendo dominava o mercado, e a SEGA teve que lutar uma batalha em extrema desvantagem para assegurar para si alguma fatia do mercado.
SEGA Master System
O SEGA Master System (abreviado como SMS), foi um rebrand do Mark III, denotando um sistema completo, logo “Sistema Mestre”, já que este novo console era um Mark III completo, sem necessidade de opcionais – tinha embutido o FM Sound Unit, que era opcional no Mark III, além da função “Rapid Fire”, que só era possível no Mark III através de um hardware opcional. O Master System também tinha uma entrada direta para o óculos 3D, sem necessidade do adaptador.
O Master System foi a base para a versão internacional do console, apesar de ele não seguir o mesmo formato fora do Japão: a versão japonesa manteve o mesmo tipo de cartucho utilizado pelos SG-1000s, mas em todos os outros países (com exceção dos países asiáticos) ele seguia uma outra pinagem e formato de cartucho, o que servia como uma espécie de trava regional. Fora do Japão, o Master System não possuía módulo FM e Rapid Fire integrados, e vários jogos tiveram o áudio em FM removido ao serem lançados em outros países. Os controles perderiam as alavancas removíveis, parte do estilo do console desde o SG-1000II e ainda presentes no SMS japonês. O óculos 3D requeriria um adaptador para conectá-lo na entrada de cartão do console. A versão japonesa não possuía jogos na memória, enquanto nos outros países, a inserção de tais jogos no console se tornaria uma das marcas registradas do console.
O console possuía um software de instruções embutido, que era iniciado quando o console era ligado sem um cartucho inserido. Os primeiros modelos do console tinham um jogo escondido, chamado Snail Maze (conhecido por aqui como “Labirinto”) e os modelos posteriores viriam com Hang-On e Safari Hunt na memória (os primeiros modelos brasileiros vinham com os três).
Fora do Japão
Primeiramente, a SEGA lançou o console nos Estados Unidos, Ásia, Europa e Nova Zelândia, contando que o novo nome seria mais interessante do que Mark III para interessar ao público. Ele era vendido em dois “pacotes”: o “SEGA Base System”, que continha apenas o Power Base (o console em si) com dois controles, e o “SEGA Master System”, que continha dois controles, a pistola Light Phaser e um cartucho com Hang-On e Safari Hunt. Mais tarde o pacote mais completo provou ser mais popular, e o outro pacote foi descontinuado.
Como o Master System não vendeu bem nos Estados Unidos, a SEGA vendeu os direitos do console no país para a Tonka, em 1988, só retornando “oficialmente” ao país em 1990, como lançamento do Mega Drive.
Na Europa, a história era um tanto diferente: com um mercado mais fragmentado entre várias plataformas de computador, como o ZX Spectrum, Commodore 64 e o próprio MSX, ficava mais fácil para a SEGA conquistar uma parcela maior do mercado. Com isso, ao contrário do resto do mundo, o Master System conseguiu ultrapassar o sucesso do NES na região, primeiramente devido as várias péssimas decisões de mercado de seu concorrente na região. Por lá o Master System foi suportado até 1996, conquistando um sucesso ainda maior que o do Mega Drive.
No Brasil, como sabemos, o Master System teve um dos seus maiores sucessos. Sendo por muito tempo o único console oficialmente lançado no país desde o Atari 2600, ele foi fabricado pela a Tectoy que, com o tempo, foi conquistando a confiança da SEGA no Japão, e nos agraciando com novidades inéditas no resto no mundo, como modelos do console com conexão remota à TV, e conversões de jogos de Game Gear para o console. Além é claro da versão do Street Fighter II, o maior jogo já lançado para a plataforma. O Master System é fabricado aqui até hoje!
Na Coréia do Sul, devido as tensões entre os dois países nos anos 80, a SEGA achou melhor não representar seu console diretamente por lá. Com isso, coube a Samsung lançá-lo no país sob o nome de Gam*Boy, e traduzindo os jogos para o idioma coreano. Existem vários jogos coreanos exclusivos para o console, e como a pirataria rolava solta por lá, muitos destes jogos não são oficiais. Vários destes jogos era conversões de títulos para MSX, logo utilizavam o modo SG-1000 do console, e eram jogos mais simples (veja nossa série de matérias sobre as empresas coreanas de MSX). os cartuchos seguiam o formato japonês, sendo compatíveis com estes, mas os controles eram diferentes, com direcionais em cruz, similares aos da Nintendo, e o controle tinha laterais arredondadas.
No resto da Ásia, os modelos eram ainda baseados no console japonês, utilizando o mesmo tipo de cartucho. O que mudava é que em alguns lugares a codificação era PAL e em outros NTSC. A SEGA lançou em Hong Kong (naquele momento uma colônia britânica, independente da China), sendo a única versão do console na língua chinesa. Esta versão era vendida com dois controles e um cartucho Hang-On.
Master System II
Em 1990, com a SEGA já focada no Mega Drive, lançou uma versão mais simples e barata do seus console 8 bits, o Master System II. Esta versão tem um design mais moderno e menor, arredondado, e com uma tampa basculante cobrindo a entrada de cartuchos (particularmente considero este um dos consoles mais bonitos já feitos). O console era feito em tons de cinza, e vinha com o jogo Alex Kidd in Miracle World na memória – algo muito impressionante, pois seria o mesmo que comprar um NES com Super Mario Bros. na memória, ou um MSX com Knightmare – ou seja, um mega incentivo para a compra (mais tarde, ele seria vendido Sonic na memória, em 1991).
A versão americana do console era cinza, enquanto a européia era preta.
Como parte do barateamento de custos, esta versão do console teve várias características retiradas. São elas:
- Logo animado “SEGA Master System” durante o boot;
- Entrada de SEGA Card (logo não compatível com os óculos 3D);
- Botão de Reset;
- Saída de vídeo A/V;
- Porta de expansão.
No Brasil, este modelo foi na verdade lançado sob o nome de “Master System III Compact”, já que o nome “Master System II” já havia sido utililizada pela Tectoy em sua re-edição da primeira versão do console, que desta vez continha Alex Kidd in Miracle World na memória.
Acessórios
Óculos 3D
Os óculos 3D do Master System era “ativos”, onde um “shutter” faz cada olho piscar, criando um efeito tridimensional. O problema é que este sistema diminui o framerate pela metade, já que cada olho pisca em um quadro consecutivamente, diminuindo a fluidez dos gráficos, e cansando a vista após pouco tempo de jogo.
Light Phaser
Esta era a “light gun” do Master System, e teve seu design baseado na pistola do desenho animado Zillion, utilizado pela SEGA para divulgar o produto. Cada vez que o gatilho era acionado, a tela piscava por uma fração de segundo, e o brilho resultante disso era captado pelo sensor na pistola, sendo possível determinar para onde na tela a pistola estava apontando. Esta tecnologia era feita para as antigas TV em CRT, logo ela não funciona adequadamente com monitores LCD ou plasma.
Control Stick
O Control Stick mais perto de um controle arcade para Master System que a SEGA já lançou. O controle estranhamente tem a alavanca direcional do lado direito, o que o torna talvez uma melhor opção para canhotos, mas não é claro se esta era a intenção da SEGA desde o início.
Sports Pad
A SEGA lançou este controle para alguns jogos de esporte, mas não deu muito certo. Este controle só é compatível com três jogos, com o trackball oferecendo 360 graus de movimento – mas pode ser usado como um controle de oito direções para jogos normais. A versão americana é maior, tendo um switch para ligar o modo de 8 direções, enquanto a versão japonesa não tem esta opção.
Handle Controller
O Handle Controller é um controle especificamente desenvolvido para jogos de corrida, tendo o direcional mapeado para um manche duplo, como os botões 1 e 2 colocados acima de cada manche. O controle possui função turbo e apesar dos gráficos presentes nele, ele não recebe nenhuma informação do jogo – os gráficos são apenas enfeite.
Paddle Control
O Paddle Control foi lançado exclusivamente para o Mark III no Japão. Como o nome diz, o seu direcional foi substituído por um paddle, e um de seus botões foi movido para a parte de cima do controle, como os botões L e R nos controles atuais. Poucos jogos eram compatíveis com este controle, sendo que alguns só funcionavam com ele, e outros também aceitavam o controle convencional.
SG Commander
O SG Commander é um controle normal, mas que possui switches separados, permitindo ligar o rapid fire independentemente para cada botão. Ele só foi lançado no Japão e na Europa. A versão japonesa é fabricada pela Hori.
Mark III Telecon Pack
Este foi um periférico lançado exclusivamente no Japão para o Mark III. Tratava-se de um módulo RF com antena, permitindo-se ligar o console à TV sem a utilização de fios.
Power Base Converter
Também conhecido como Mega Adaptor no Japão e Master System Converter na Europa, este é na verdade um acessório para Mega Drive, ams está listado aqui pois permite que se use cartuchos de Master System no Mega Drive. Como o Mega Drive era baseado em uma arquitetura com similaridades com a do seu antecessor, a SEGA divulgou a compatibilidade do Mega Drive com o Master System como uma das grandes vantagens do sistema. Tal compatibilidade era possível com este aparelho.
O adaptador tinha duas entradas, uma para cartuchos e outra para cartões (e óculos 3D). O adaptador não contém nenhum hardware de Master System embutido, funcionando apenas como um adaptador de conexão, uma vez que a pinagem dos cartuchos eram diferentes. Interessante notar que o adaptador não funciona no Mega Drive II somente porque seu gabinete tem formato diferente.
Outros Acessórios
Mostramos acima só os acessórios produzidos pela própria SEGA, mas isso não é tudo: muito populares foram os controles da série QuickShot (lançados aqui no Brasil também pela Tectoy), além de outros fabricantes. O site Sega Retro tem uma lista bem completa aqui.
Outros Modelos
Além do Master System original e do segundo modelo, outras versões do console surgiram, principalmente no Brasil, onde a Tectoy foi responsável por vários modelos inéditos, como:
Master System III Collection, da Tectoy
A Tectoy lançou várias versões do Master System III Collection (que na verdade correspondia ao Master System II do resto do mundo), cada vez com mais jogos na memória. Foram lançadas versões com 21, 74, 105, 112, 121 e 131 jogos na memória. Estes números são duvidosos, já que vários destes jogos eram “sub-jogos”, que faziam parte dos cartuchos 20 em 1 criados por ela, ou conversões de jogos de Pense Bem, onde cada “livro” era contado como um jogo.
Estas versões vinham com controles de 6 botões do Mega Drive (possivelmente para baratear custos, já que assim a Tectoy só precisaria produzir um modelo de controle para ambas as linhas), que obviamente eram compatíveis com o Master System. Mais tarde, os mais recentes modelos do SMS3 Collection teriam a tampa do slot de cartucho lacrada, tendo seu hardware baseado no SMS Engine, um SMS de arquitetura simplificada.
Master System Super Compact/Master System Girl, da Tectoy
O Super Compact é um Master System e controle num único aparelho, e considerado “portátil”, por se pequeno e poder operar com pilhas ou ligado á tomada. Ele possui slot de cartuchos, e se comunica com a TV através de uma antena RF, similar ao Telecon Pack do Mark III. Este aparelho foi desenvolvido pela própria Tectoy, sendo exclusivo do mercado brasileiro.
Existiram três versões, uma com Alex Kidd in Miracle World na memória, e uma segunda, com Sonic the Hedgehog em seu lugar. Houve ainda uma versão especial com o jogo Super Futebol II.
A Tectoy também lançou outra versão, tendo como alvo o público feminino: era o Master System Girl, que tinha o gabinete rosa, e o jogo Mônica no Castelo do Dragão na memória. Mais tarde, este jogo foi substituído por Mônica: O Resgate e Sonic the Hedgehog.
Master System Handy/Portátil, da Tectoy
Seguindo com o uso do SMS Engine, a Tectoy seguiu a onda que já estava popular no exterior, onde vídeogames clássicos eram relançados em forma de controles que eram ligados diretamente à TV, com jogos na memória. Este é o Master System Handy, com 20 jogos:
Mais tarde, ele foi substituído pelo Master System Portátil, de cor azul e 30 jogos na memória:
Tectoy DVD Karaoke Game DVT-G100
Em 2009, a Tectoy lançou um dos derivados mais estranhos de Master System: um aparelho 2 em 1, com DVD player, aparelho de karaokê e Master System, com 100 jogos na memória. Ele lê DVDs, VideoCDs, MP3s, CDs, Photo CDs, CD-Rs, CD-RWs, DVD-Rs e DVD-RWs de qualquer região, mas só funciona em progressive scan. Ele também acompanha dois controles de 6 botões do Mega Drive, mas nenhum jogo utiliza mais que 2 botões.
SEGA Game Box 9
O SEGA Game Box 9, foi uma versão de Master System para utilização em hotéis no Japão, funcionado por fichas/moedas (mas podendo operar também em free play). Como o nome diz, o aparelho tinha 9 cartuchos instalados, que podiam ser escolhidos pelo usuário. Houve uma versão similar no ocidente, mas continha 16 cartuchos.
Blaze SEGA Gear Handheld
A empresa inglesa Blaze lançou um Master System portátil, com 30 jogos de Master System e Game Gear na memória. O aparelho também possui saída para TV, podendo funcionar como um “console” propriamente dito. Como é de se esperar, não possui nenhum slot de cartuchos.
Outras versões
Houveram ainda outras versões de Master System, basicamente equivalentes ao Handy e ao SEGA Gear, além de variantes do Master System II em vários lugares do mundo. Fica impossível cobrir todos aqui, mas escolhi os principais e mais próximos da gente, como exemplo.
Ficha Técnica
NOME: Mark III/Master System FABRICANTE: SEGA PAÌS DE ORIGEM: JAPÃO ANO: 1985/1986 PROCESSADOR: Zilog Z80 CO-PROCESSADOR: TMS9918 (VDP) RAM: 64K (8KB) VIDEO RAM: 128K (16KB) RESOLUÇÃO: 256 x 192, 256 x 224 SPRITES: 64 CORES: 32 SOM: SN7849 (PSG) YM-2413 (FM)
Galeria
Fonte: Sega Retro, Tectoy
Imagem de destaque feita por ArthurTheBootleg (DeviantArt)
Muito boa a sua materia , parabens
Um console que muitos brasileiros e europeus têm no coração, amo até hoje e ainda jogo vários games dele.
Eu até prefiro mais NES e Master System do que SNES e MD, por incrível que pareça.