Por Kurt Kalata
Nazo no Murasame Jō (謎の村雨城) – Famicom Disk System, Game Boy Advance, Wii Virtual Console (1986)
Se você entrar numa loja japonesa de jogos antigos, é fácil perceber que quantidades de títulos para o Famicom japonês superam a quantidade de títulos lançados nos EUA e Europa por uma margem enorme. E ainda assim, a maioria deles era jogos feitos por terceiros. A Nintendo sempre foi muito consistente, trazendo a maioria de seus títulos para o ocidente, e os que ela não trouxe, assim o fez por motivos bem claros. Super Mario Bros. 2 (o verdadeiro) era, por exemplo, bem sem graça, Famicom Wars and Fire Emblem era provavelmente muito difíceis ou complexos para o público que eles tinham, Famicom Detective Club e Shin Onigashima exigiam um esforço bem maior do que uma simples tradução, quando naquela época, seus maiores esforços de localização era voltados para VAMOS FAZER DINHEIRO, Joy Mecha Fight simplesmente foi lançado muito tarde, e Devil World era um clone bizarro de Pac-Man, com cruzes, demônios e todo o tipo de simbolismo cristão que funcionaria nos Estados Unidos.
E ainda sim, aqui nós temos Nazo no Murasame Jo (O Mistério do Castelo Murasame), um jogo muito bacana para o Famicom Disk System que nunca foi lançado fora do Japão, que praticamente pega a mecânica básica do The Legend of Zelda e troca todos os seus elementos de adventure por uma ação ao estilo do Commando, mas com o enredo do jogo se passando no Japão feudal. Talvez eles tivessem achado o jogo japonês demais para se importarem em reprogramá-lo em cartucho e relançá-lo? Isso não impediu a Taito, com The Legend of Kage, que tinha um tema similar, mas esta era uma empresa totalmente diferente, e também tinha o precedente de um lançamento nos fliperamas…
De qualquer forma, o jogo é sobre uma entidade alienígena que invade o castelo Murasame e assume o controle de uma estátua gigante, que por sua vez espalha sua influência maligna para quatro castelos vizinhos, cada um com o nome de uma cor diferente. Na pele do herói Takamaru, você deve lutar até cada um destes castelos e então enfrentar sua fonte demoníaca. Cada um destes cinco castelos é dividido em duas fases – a fase de “aproximação”, com Takamaru lutando pelo caminho até entrar no castelo, e a fase “interior”, onde você esplora o castelo em si.
O jogo se parece e se controla do mesmo jeito que o Zelda, mas é um pouco mais rápido e bem mais difícil. Apesar de cada fazer tem um início bem definido, o caminho não é linear, geralmente contendo vários caminhos bifurcados, loopings, ou simples becos sem saída. Há também um limite de tempo para acelerar a sua investida, fazendo você se sentir com se estivesse desperdiçando tempo. Mas se você gastar tempo explorando, você pode achar donzelas raptadas, que te dão uma vida extra se forem salvas. Mas algumas delas são demônios disfarçados, para adicionar um pouco de imprevisibilidade.
Ninjas de todo o tipo pulam das árvores, rio e até surgem no meio do ar para te atacar, vindos de todas as direções. Como Link, Takamaru só pode andar em quatro direções, enquanto os inimigos podem atacar de qualquer ângulo. Entretanto, Takamaru também conta com um suprimento infinito de armas de longo alcance, como shurikens, que podem receber upgrades, virando lâminas ou bolas de fogo, e também tem uma variedade de tiros em várias direções. Estes upgrades de armas usam pergaminhos mágicos, logo você não pode sair atiram sem, parar por aí, mas muitos inimigos deixam cartas que restauram o seu poder.
Takamaru também pode fatiar seus inimigos ao estilo Shinobi, style usando sua espada, que é usada automaticamente quando você estiver perto o suficiente. O mais importante é que sua espada pode ser usada para bloquear shurikens inimigas, logo, mesmo quando a tela estiver inundada de shurikens por todo canto, enquanto você estiver virado mais ou menos na direção correta, você pode se defender simplesmente golpeando sem parar.
É claro, isso não funciona sempre. Lá pela segunda fase, você vai começar à enfrentar ninjas que explodem quando você os acerta, tornando o seu ataque de espada praticamente inútil contra eles, e mais inimigos começam à disparam fogo, o que não dá pra bloquear. Alguns dos inimigos mais difíceis jogam bombas que explodem ao impacto e absorvem seus ataques essencialmente agindo como uma forte defesa. O jogo te manda inimigos cadas vez mais difíceis, como os tengus que varrem a tela como pequenos tornados, guerreiros que giram lanças que parecem bloquear todos os seus ataques, e magos que se cercam com chamas. Um dos chefes arremessa bombas que explodem criando mais ninjas. na terceira fase, a dificuldade sobe em um grau incrível. Esse é um jogo realmente difícil, e você só pode levar três golpes antes de morrer, e você só tem três vidas antes de precisar recomeçar a fase. Além do mais, ao morrer você reseta todas as suas armas, tornando-o muito fraco quando começa com uma vida nova. Ou você luta morro acima, ou volta um pouco para ficar mais forte.
Existem alguns powerups que podem ser estocados e usados com o botão B, incluindo uma capa que te torna invisível por alguns segundos, e um ataque de relâmpagos que causam dano em tudo na tela. Você só pode usá-los poucas vezes, e eles não são exatamente abundantes, então use com cuidado.
Talvez tenha sido a dificuldade enorme que fez a Nintendo deixar este jogo para lá. Ainda sim é um jogo extremamento divertido, e também não é como se o acervo do NES não tivesse outros desafios monstruosamente difíceis. A música pelo menos é muito boa, mesmo se você só acabar ouvindo uma ou duas músicas à maior parte do jogo.

Captain Rainbow
Além de ter sido lançado para o Gameboy Advance como parte da série Famicom Mini em 1994, nunca houveram continuações. Apesar disso, há referências dele em vários fan services da Nintendo. O tema principal aparece em sua forma original no Super Smash Bros Brawl. Um dos tesouros em Pikmin 2 se chama “Cosmic Archive”, que é na verdade um disquete de FDS do Nazo no Murasame Jo. Takamaru também aparece no jogo de Wii exclusivo para o Japão Captain Rainbow, juntamente com outros personagens esquecidos da Nintendo, como Hikari do Shin Onigashima, Birdo (Catherine) do Doki Doki Panic/Super Mario Bros 2 americano, Little Mac do Punch Out, Tracy do The Legend of Zelda: Link’s Awakening, Tao e Mappo do Giftpia, os soldadinhos do Famicom Wars, Lip do Panel de Pon, Devil do Devil World, o velhote do Golf do NES, e Gicchoman do Chibi Robo. E mais como uma estranha nota de cultura popular, Nazo no Murasame Jo foi a base de um episódio o programa de 1986 da Fuji TV Onyanko Club.

Nintendo Land
O jogo também foi lançado no Wii Virtual Console, mas apenas no Japão. Nazo no Murasame Jo também foi representado em dois outros jogos. Samurai Warriors 3 para o Wii tem um modo chamado “Murasame Castle” onde você joga como Takamaru. O jogo também está representado no jogo de Wii U Nintendo Land, com um minigame chamado “Takamaru’s Ninja Castle.”
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