Por Kurt Kalata

Capa (PSVita)
Série Dragon Slayer:
I: Dragon Slayer
II: Xanadu
III: Romancia
IV: Drasle Family (Legacy of the Wizard)
V: Sorcerian (Parte I) | (Parte II)
VI: Legend of Heroes
VII: Lord Monarch
VIII: Legend of Xanadu
Outros:
Legend of Xanadu II
Xanadu Next
Tokyo Xanadu
Tokyo Xanadu / Tokyo Xanadu eX+ (東亰ザナドゥ) – PSVita, PlayStation 4, Windows (2015)

Capa (PS4)
A primeira coisa à se falar sobre o Tokyo Xanadu é sobre o seu título. O jogo foi lançado no Japão em 2015, trinta anos depois do lançamento do Xanadu da Falcom para PC, e recebeu este nome como tributo. A empresa fez a mesma coisa no vigésimo aniversário do Xanadu com o jogo para PC Xanadu Next. Enquanto Xanadu Next é uma reedição moderna dos RPGs clássicos para computadores, Tokyo Xanadu é algo diferente – na verdade, apesar do nome, ele quase não tem relação com os jogos anteriores. Na verdade este é um jogo mais orientado à ação, baseado no sistema das de RPG Trails/Kiseki da Falcom, particularmente nos jogos Cold Steel, mas ambientado nos dias atuais.
Ironicamente, o jogo também não se passa realmente em Tóquio, mas sim em uma área similar (e ficcional) em sua periferia, chamada de Morimiya City (ela é baseada em Tachikawa City, onde estão os escritórios da Falcom). Dez anos antes do começo do jogo, uma série de terremotos devastaram esta região, o que exigiu uma grande reconstrução. Desde então a cidade se recuperou, mas portais misteriosos começaram à aparecer por lá, que levam à uma dimensão alternativa, conectada por portais chamados de Eclipses. O protagonista, um estudante do colegial chamado Kou, descobre a existência destes portais quando tenta salvar Asuka, sua colega de escola, de uma dupla de delinquentes. Ele então aprende sobre grupos que investigam os Eclipses, que exploram os seus recursos e protegem os humanos dos monstros, conhecidos como Greeds, que habitam dentro destes portais.
Personagens Principais
Kou Tokisaka
O herói do jogo, que acaba sendo sugado para a luta contra o Eclipse depois de um encontro com sua colega de classe Asuka. Frio e distante, mas corajoso e preocupado com os amigos. Sua família vive no exterior logo ele mora sozinho e se sustenta sozinho. Sua espada-chicote é similar à arma de Ragna do Zwei II da Falcom.
Asuka Hiiragi
Uma adolescente que pertence à um grupo chamado Nemesis, uma das organizações interessadas no Eclipse. Ela também é um pouco fria e desinteressada em qualquer coisa que não seja do seu trabalho. Sua arma principal é uma espada.
Sora Ikushima
Ela é membro do clube de karatê, com um talento incomum para o combate corpo à corpo.
Yuuki Shinomiya
Um gênio da programação, que desenvolve o famoso “God’s App”, que viraliza pela escola. Ele é meio recluso, e o esteriótipo do nerd de computador. Ele utiliza um bastão e um pequeno satélite flutua sobre seu ombro, diparando lasers.
Mitsuki Hokuto
A presidente da classe e também filha do conglomerado familiar Hokuto, que parece nutrir um interesse nos assuntos relacionados ao Eclipse. Todos os seus ataques são baseados em projéteis.
Shio Takahata
O “bad boy”, e membro fundador da gangue BLAZE, que tem alguns relacionamentos com a yakuza local. Seus ataques são lentos mas poderosos.
Rion Kugayama
Ela é membro do idol group SPiKA, e gasta muito do seu tempo zanzando pela cidade, enquanto esconde sua verdadeira identidade de seus fãs.
Muito do jogo é inspirado em outros três jogos bem populares: o Persona da Atlus e do Trails of Cold Steel da própria Falcom, assim como de outros de seus RPGs de ação, o famoso Ys. A ambientação urbana atual com fantasia é uma inspiração óbvia do Persona, especialmente pelo fato de cada capítulo ser focado em algum tipo de problema envolvendo os colegas de classe do Kou, o que acaba fazendo com que eles também tomem consciência do Eclipse e se junte à sua equipe. Cada capítulo também começa com um dia de aula, seguido de um “tempo livre” onde você pode explorar a cidade, comprar coisas nas muitas e muitas lojas, fazer quests secundárias, ou encontrar outros personagens (tanto da sua equipe quanto NPCs) em um curto cenário. Apesar do jogo contar com um calendário interno, a parte de simulação do jogo é bem leve, e é toda guiada pela história do jogo, logo as opções aqui são bem limitadas. Existem também três características que você deve prestar atenção – Wisdom, Courage, e Virtue – que são melhoradas lendo livros, subindo de nível nas fases de dungeon e realizando o mais número de quests secundárias possível. Para se conseguir o final verdadeiro, você precisa chegar até um certo nível, o que te incentiva à jogar segundo as regras do jogo.
O aspecto de interação social diária é um aspecto também similar ao Cold Steel, que também copiou um pouco do Persona, até na sua obsessão de se falar com todo mundo para se acessar as quests menores. Isso faz mais ainda este se parecer exatamente com um destes jogos – a enorme quantidade de personagens, os designs e personalidades simplórias mas agradáveis, a direção lenta das cutscenes, e até o visual da interface do jogo. Ele até conta com um modo similar de customização, onde você pode ajustar os stats e habilidades de seus personagens ao equipá-los com esferas coloridas e destravando novos slots em suas armas.
Comparado ao Persona e ao Cold Steel, a maior diferença é que este é um RPG de ação. Algumas vezes por capítulo você precisará se aventurar por um dungeon, enfrentar monstros, coletar itens e eventualmente achar a saída. Você pode levar até três personagens por vez em um dungeon, mas diferentemente de Ys Seven ou Memories of Celceta, onde os outros personagens da equipe são controlados pelo computador, aqui só uma luta acontece por vez. Cada um deles tem seu próprio estilo de luta, assim como seu elemento – e você ganha bônus por matar inimigos do mesmo elemento, o que serve de incentivo para variar o uso de seus colegas (Kou tem a habilidade de usar todos os elementos diferentes, ao invés de apenas alguns, como os outros, o que lhe dá certa flexibilidade). Cada personagem tem alguns golpes especiais além de seus golpes regulares, includindo ataques de longa distância e golpes carregados (ambos sendo controlados por uma barra regenerativa), assim como golpes aéreos e super ataques.
Para uma empresa que já foi a líder no segmento de RPGs de ação com os últimos jogos da série Ys, Tokyo Xanadu é um pouco desajeitado. Muito disso se deve à câmera, que é colocada logo atrás do seu personagem, ao invés de te dar uma visão mais aérea. A trava de mira nem sempre consegue seguir seus alvos, e as batalhas contras os chefes podem se tornar problemáticas, quando você não consegue entender o que se passa à sua volta.
Além disso, em comparação com alguns jogos da série Ys, os ataques dos seus personagens são um pouco mais lentos e eles não podem ser cancelados com um comando de esquiva. Felizmente os inimigos fazem a gentileza de piscar antes de te atacar, mas os golpes à vezes tem um retardo e eles geralmente tem um longo alcance, então você precisa jogar na defensiva. Uma vez que você se aprende à se esquivar dos diferentes tipos de inimigos, verá que este não é um jogo realmente difícil. Mesmo se continuar tendo dificuldades, existem tantos itens para recuperar energia que você pode comprar que raramente você estará numa enrascada. Os designs simplistas dos dungeons faz parecer que que eles são gerados randomicamente, mas na verdade não são.
Na verdade, explorar estes dungeons matando monstros ainda sim é divertido, mesmo existindo melhores jogos de ação por aí – mas este acaba sendo o maior problema do Tokyo Xanadu: ele não só se baseia demais em jogos mais antigos, mas parece não entender o que faz destes jogos serem tão atraentes. Persona não é famoso por tem simulação de namoro/vida real, mas sim por ter ótimos cenários que exploram a psicologia dos personagens e como eles se comportam na sociedade moderna. Os cenários de Tokyo Xanadu são os típicos clichês de anime – amigos com ciúmes, membros da família sendo deixados de lado, problemas com drogas e delinquência, etc. – e outras coisas que se inspiram demais em anime e mangá, como a presença de um “idol group”. Há até um capítulo onde um grande nevoeiro cobre a cidade e os moradores são sugados para o Eclipse, o que imita demais a premissa básica do Persona 4. Além disso, o Kou é um protagonista sem graça, demonstrando nenhum interesse nos hobbies de seus colegas, sendo que seu maior diferencial é sua ética de trabalho (ele tem vários trabalhos de meio período), e mesmo assim todo mundo parece atraído por ele sem razão aparente. Não há sequer muito de “dating sim”, já que o Kou não parece ter interesse romântico em ninguém, apesar das meninas do jogo rotineiramente se jogarem em cima dele. Além da caracterização e da narrativa, ele não tem sequer uma fração do estilo “pop art” do Persona’s style – os eventos são apresentados em texto simples sobre uma tela preta, antes de simplesmente passar para a próxima cena.
É exatamente assim que os jogos da série Cold Steel contam a sua história, logo seus fãs podem ser mais tolerante ao ritmo do jogo. Mas nestes jogos isso funcionou porque om jogo contém uma enorme quantidade de informação e apresentação do mundo – você pode passar horas conversando com os membros do seu time sobre nada, mas eventualmente suas histórias acabam ficam bem sólidas e construídas, o que acaba virando algo bem emocionante quando alguma tragédia lhes acontece. Mas Tokyo Xanadu não possui um universo para ser trabalhado – algumas das formas que a diferentes organizações interagem com o Eclipse são interessantes, mas fora isso, o ritmo arrastado não acaba se justificando. Ele acelera no último terço do jogo, mas tem umas lacunas que ficam sem explicação, e apesar de alguns plot twists funcionarem (como conseguir um adulto como personagem jogável entre os adolescentes de anime é uma mudança bem-vida), nem todos funcionam (como uma grande quantidade de narratica colocada num NPC secundário).
Ele até fica devendo para o alto nível que se espera das trilhas sonoras da Falcom. As músicas dos segmentos de história são prazeirosas – mas novamente, bem parecidas com as do Cold Steel – enquanto outras têm um estilo parecido com as do Persona 4.
Como tributo aos outros jogos da Falcom, existem vários toques legais – há uma sprite do Adol ao estilo do PC-88 num banner no fliperama da cidade, e existem minigames com versões super-herói de anime de Rean and Alisa, os heróis de Cold Steel, com eles jogando “whack-a-mole” contra o mascote da Falcom, Mishy. Existem máquinas de fliperama de outros jogos como Gurumin e Vantage Master, e também bonecos como da fada Noh de Nayuta no Kiseki e do coelho Mona de Monarch Monarch. Um dos livros até menciona um aventureiro de cabelo vermelho, uma referência óbvia à Adol do Ys.
Mesmo assim, todo esse fan service não muda o fato de que este é um jogo decepcionante vindo da Falcom – ele raramente é ruim, mas não chega perto do alto nível que eles geralmente entregam. Ele até pode ser um quebra galho aceitável durante o vácuo de oito anos (2008 – 2016) entre os Persona 4 e 5, mas fora isso, é apenas um adversário barato. Ele foi desenvolvido de forma que a Falcom pudesse treinar as habilidades de seu time júnior, o que poderia explicar sua qualidade, mas ele vendeu bem mais que o esperado, logo é possível que haja uma continuação.
Tokyo Xanadu foi inicialmente lançado para o Vita, mas uma versão atualizada chamada Tokyo Xanadu eX+ foi depois lançada para PlayStation 4 e Windows. Ela conta com algumas melhorias técnicas, como uma resolução maior, e rodando à 60 frames por segundo. Ela também expande bastante a história, adicionando um personagem jogável novo, White Shroud, que no jogo original passava a maior parte do tempo nas sombras. Eles também contam com um novo elemento chamado Light, que é forte contra qualquer outro elemento, exceto Darkness. Existem também novos capítulos secundários com foco em outros dos seus personagens além do Kou, assim como um novo epílogo, além de super ataques extras para os seus personagens. Esta versão é obviamente melhor em vários níveis, mas a versão para Vita funciona muito bem como uma experiência completa do jogo, para aqueles que preferem a portabilidade.
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