Por Kyle Kubiak
Light Crusader (ライトクルセイダー) – Mega Drive, Wii Virtual Console, Windows
Light Crusader é um jogo de puzzle de exploração de dungeons, seguindo as linhas da série Landstalker, da Climax. Tendo o Landstalker como sua maior inspiração, ao invés de pegar algum tema bizarro, comum aos jogos da Treasure, o time de desenvolvimento preferiu um tema mais sombrio, algo que se encaixaria melhor num jogo para o Amiga ou para o IBM PC. O jogo tem um tema forte de fantasia européia/Dungeons & Dragons, ao invés de algo parecido como os designs do Dragon Quest feitos pelo Akira Toriyama, o que lamentavelmente não funcionou tão bem. Ao invés de ser algo com influência de anime, como os jogos Dungeons & Dragons da Capcom para os arcades, ou algo no estilo do Boris Vallejo, a arte do jogo parece desapontadoramente amadora.
Light Crusader começa com grandes expectativas, com o título do jogo escrito em uma fonte que parece ter sido inspirada pelas obras do Roger Dean, famoso pelas capas da banda Yes. (Um nota interessante é que a primeira espada disponível para compra na loja da cidade se chama “Relayer”, que é na verdade o título original deste jogo – e também o nome do excelente album do yes de 1976. Coincidência?)Ao se começar uma nova partida, é apresentada ao jogador uma introdução em texto, ilustrada com imagens estáticas extremamente pobres, mal-desenhadas, numa tentativa de estilo ocidentalizado. Então se segue uma sequência animada estranha, mostrando o herói cavalgando em seu cavalo por uma floresta, em direção à sua missão. Finalmente, o herói é visto no gráfico in-game, aos pés do Rei, que como era de se esperar, pede por sua ajuda.
Ao aceitar o desafio, o herói está livre para se comunicar com os NPCs incrivelmente inanimados, espalhados por uma cidade totalmente sem graça. O jogador pode também comprar armas e magias elementais para sua futura jornada. Depois de receber uma pista de que alguma ação pode ser encontrada no cemitério, o jogador precisará empurrar algumas lápides a la The Legend of Zelda e descer rumo às profundezas.
Nos gráficos, Light Crusader é inconsistente. Apesar de quaisquer problemas com estilo de arte escolhido, os personagens in-game tem um visual decente, mesmo que um pouco anoréxico. Os cenários são passáveis, apesar de serem genéricos os suficiente para não serem memoráveis. As telas de mapa e inventário são simplistas, mas legíveis e relativemente fáceis de se usar. O personagem principal tem uma boa animação, apesar de seus movimentos serem um pouco esquisitos. Aparentemente, a Treasure não é capaz de fazer humanos “realistas”muito bem. Os vários inimigos que o jogador enfrenta também são ok, mas nenhum deles é extremamente interessante. Em compensação, os chefes são bem desenhados e tem aquele design que você só encontraria num jogo da Treasure. Deve ser algo nos padrões de ataque.
Outra coisa estranha nos gráficos de Light Crusader é que alguns dos efeitos são de natureza poligonal. As portas são objetos poligonais planos e sombreados, que se abrem no espaço 3D. Quando o herói acerta uma parede ou mata certos inimigos, é mostrado um efeito de partículas, consistindo em pequenos triângulos brilhantes. Apesar de não serem totalmente apropriados em relação á estética do jogo, eles são visualmente muito bacanas. E eu sua defesa, o jogo faz um ótimo trabalho implementando uma sensação real de profundidade e peso nos cenários, apesar dele ter uma tendência de preferir saltos às cegas. Isso se dá ao fato de que os objetos em primeiro plano não se tornam transparentes como nos jogos mais modernos deste tipo, em hardwares mais poderosos. E obviamente, também não é possível girar a câmera para aliviar este problema. De uma forma geral, os visuais de Light Crusader, com exceção dos detalhes poligonais, não são grande coisa. Normalmente, isso não seria um grande problema, mas quando comparado aos outros jogos que a Treasure lançou para o sistema, ele simplesmente não está á altura.
Mas os gráficos não são o único problema em Light Crusader. Diferente da maioria dos jogos deste estilo da época, o movimento no Light Crusader não se baseia em grid. Os cenários são isométricos, mas todas as sprites de objetos se movem livremente pelo ambiente. Quando bem executado, isso é uma coisa boa, já que movimentos pequenos em qualquer direção são teoricamente possíveis, e simplesmente é algo mais natural. Mas isso não funciona tão bem aqui, especialmente considerando que você pode empurrar as coisas mas não pode puxá-las, e os objetos parecem leves demais. Mas mesmo assim é impressionante terem tentado usar de física um jogo de 16-bit.
A falta de espaços definidos com rigidez nos ambientes de Light Crusader torna os saltos em 3 dimensões e lutas contras inimigos num experiência imprecisa, frustante e francamente irritante. A detecção de colisão é extremamente suspeita e as distâncias são difíceis de se julgar com consistência. Some isso à um golpe de arma que é praticamente impossível de se mirar e você terá a receita certa para uma dor de cabeça. não deveria ser tão difícil de se atacar algo que está diretamente na sua frente. Isso faz com que muitos dos combates se tornem um jogo ambíguo de bater e correr.
Nos dungeons, pode ser difícil saber qual porta você acabou de destrancar, pois não há indicação ou mudança alguma no mapa. O sistema de magia elemental poderia ser interessante, mas na prática ele é muito arbitrário, já que você não sabe o feito que ela terá até que você a tenha testado. Como em Gunstar Heroes, existem quatro elementos – ar, fogo, terra e água – e você pode combiná-los para criar magias específicas. Existem quinze tipos ao todo, desde ataques à magias de cura, mas nem todas as combinações são úteis.
Por outro lado, a música é muito boa. No dungeon, é muda de acordo com o contexto, sendo bastante scriptada (algo raro para a época), e isso funciona bem, criando uma atmosfera de suspense e gerando medo. De forma geral, a composição é bem diferente quando comparada aos outros esforços da Treasure. A música em Light Crusader usa uma mistura de música barroca com música ambiente. A música da cidade é um um tema “em fuga” bem bacana. A música do dungeon vai de atmosférica à frenética. Apesar da música da tela de item/map screen ter sido basicamente copiada do “The Lamb Lies Down on Broadway” do Genesis (especificamente Silent Sorrow in Empty Boats), a trilha sonora é facilmente a parte melhor realizada, sendo a melhor parte do jogo.
Light Crusader certametne não é um jogo horrível, mas para a empresa que nos deu jogos como Gunstar Heroes, este é um passo para trás. Comparando a versão japonesa com a versão americana, as únicas diferenças parecem ser os textos em japonês e a superior, porém questionável arte da versão japonesa, já que a arte americana é simplesmente terrível. Apesar de não ser um grande jogo, vale à pena experimentar o Light Crusader, se você o conseguir por um bom preço, o que é um tanto fácil considerando que este foi um jogo tardio. Apesar de tudo, por ter sido o jogo mais fraco da Treasure lançado no nosso querido Mega Drive, ele é historicamente relevante.
Light Crusader não é algo muito frequente nas coleções da SEGA mas foi incluído no SEGA Mega Drive and Genesis Classics para PC (Steam), e também foi lançado no Virtual Console do Wii.
Obrigado ao John Ames pela dica sobre a música roubada do Genesis!