Por Bobinator em 2 de maio de
Eternal Champions – Mega Drive, Wii (1993)
Street Fighter II e Mortal Kombat foram – e você com certeza sabe disso – enormes sucessos. Street Fighter II era ágil, tinha um elenco de personagens bacanas e uma intricada jogabilidade abaixo de sua superfície. Apesar de Mortal Kombat não ser um jogo tão complexo, ele compensava isso com sangue e brutalidade. Antes da SEGA lançar seu jogo de luta principal, o Virtua Fighter, eles bolaram um jogo de luta para chamar de seu. Um jogo que misturaria o visual e estilo do Mortal Kombat com a jogabilidade do Street Fighter. E deu certo? Bem, na verdade não. Seu primeiro erro, foi ao invés de usar os talentos de gente como Yu Suzuki ou Yuji Naka nessa tarefa, foi contratar os caras que fizeram o Dinosaurs For Hire.
É claro que isso não quer dizer que a série (há uma continuação no SEGA CD) é ruim. Há algumas idéias boas aqui, sendo que algumas delas até apareceram pela primeira vez neste jogo, mas são tantos defeitos e problemas que a série é maldita entre os gamers juntamente com títulos como Kasumi Ninja e Bloodstorm, algo que o jogo não merece como um TODO.
Num futuro muito distante, a humanidade acabou se destruindo. Esta catástrofe foi na verdade causada pela morte de nove indivíduos ao longo da história, pessoas que poderiam ter feito algo para mudar o curso do tempo para melhor, se não tivessem morrido antes disso. A boa notícia é que uma criatura alienígena, conhecida como o Eternal Champion, tem o poder de trazer estas pessoas de volta à vida. A má notícia é que ele só pode fazer isso uma vez. Logo, ao invés de fazer algo como organizar um debate para decidir quem deve ser trazido de volta à vida, ele simplesmente colocou todos eles para lutarem entre si. Aquele que derrotar todos os outros lutadores além do próprio Eternal Champion terá a chance de voltar ao momento logo antes de sua morte, enquanto todos os outros simplesmente morrem novamente.
Este jogo na verdade teve muito mais esforço gasto em seu enredo do que praticamente qualquer outro jogo de luta de sua época. Há até um modo biografia, que dá informações sobre os personagens, suas histórias e seus estilos de luta. Nada disso faz diferença no jogo em si, mas não deixa de ser uma idéia bacana.
Existem nove personagens com quem você pode jogar, sem contar o Eternal Champion, que não é selecionável.
Personagens
Shadow Yamoto
Uma ninja que usa o ninjitsu (quem diria) como seu estilo de luta. Sendo uma ex-assassina corporativa, ela mudou de idéia e acabou sendo empurrada do alto de um arranha-céu por seus empregadores por causa disso. Ela usa várias armas e técnicas ninja, incluindo vários projéteis, como facas, shurikens e bombas de fumaça. Ela é o mais próximo que temos de um personagem principal na série e ela até acabou ganhando um jogo próprio chamado X-Perts, que é horrível.
Trident
Um gladiador de Atlântida que é uma espécie de homem-peixe e luta capoeira. Como os antigos atlantes aprenderam capoeira, já que ela se originou no Brasil, eu não faço idéia. Trident acabou sendo morto em uma luta comprada contra um gladiador romano, o que levou a sua sociedade à ficar aprisionada no fundo do mar para sempre. Trident tem este nome devido à arma que leva em uma das mãos e é um dos personagens mais apelões do jogo, tendo um monte de golpes que deixam seus inimigos tontos.
Jetta Max
Uma artista de circo que luta uma mistura de savate e pencak silat. Ela teve o número de circo que ela criou para tentar trazer paz à China sabotado por rebeldes, o que acabou levando ela à morte. Um dos personagens mais velozes do jogo, ela pode rolar como uma bola feito o Blanka, além do poder de vibrar, o que faz ela se mover ainda mais rápido.
Xavier Pendragon
Um alquimista que luta hapkidô com bastão. Ele foi queimado na fogueira pois acreditaram que seus poderes, baseados na ciência, eram na verdade magia negra. Para ser sincero, não dá para culpá-los, já que ele dispara de seu bastão um dragão mágico que morde os outros e consegue transformar pessoas em ouro, em um dos golpes mais estranhos já vistos num jogo de luta. Ele também pode trocar de personagem com o seu oponente.
Midknight
Um vampiro que luta jeet kune do. Ex-cientista que foi designado para criar uma arma química para acabar com a Guerra do Vietnã, mas que acabou caindo num tanque com a sua própria fórmula, depois de se arrepender de sua criação. A mistura o transformou em um vampiro, com poderes hipnóticos e tudo mais. Ele então acaba levando uma estaca de um agente do governo 133 anos depois.
R.A.X. Coswell
Um ciborgue que luta muay thai. Ele acabou sendo morto por um vírus que foi implantado pelo seu empresário, que apostou no outro lutador. Ele pretende trazer o kickboxing de volta à suas origens humanas, se conseguir vencer o campeonato. Além de seus golpes de kickboxer, ele pode usar suas melhorias cibernéticas para voar pela tela e disparar lasers de seus olhos. Porquê ele quer acabar com isso, eu não faço idéia.
Jonathan Blade
Um caçador de recompensas que luta kempô. Ele foi enviado pelo governo para capturar um cientista foragido, que carrega um vírus que pode matar 99% da população mundial. Antes que ele pudesse negociar uma solução pacífica com o cientista, o governo o matou, fazendo o frasco se quebrar… Logo se você acha que o cara que poderia salvar o mundo inteiro deveria ter prioridade sobre todo mundo, você achou errado.
Larcen Tyler
Um mãos leves à serviço da máfia, que usa o estilo de kung-fu do louva-deus. Ele foi mandado para entregar um pacote ao chefe de polícia, mas acontece que o pacote tinha uma bomba dentro e Larcen acabou sendo explodido também. Ele tem uma série de ferramentas que ele usa em combate, como um gancho de escalada e um par de ganchos de mão, de permitem que ele rasteje pelo teto. Ele também tem o seu próprio jogo para Game Gear, chamado Chicago Syndicate, que também é horrível. Honestamente, ele é provavelmente o melhor personagem do jogo, já que ele é praticamente uma mistura de um gângster dos anos 20, do Vega e do Batman.
Slash
Um homem das cavernas que usa… bem, não é exatamente um estilo de luta, mas o jogo chama de “Dor”. Ele tem um porrete enorme, que ele usa para rebater projéteis e para sentar o sarrafo nos seus oponentes. Ele foi apedrejado até a morte pelos outros homens das cavernas por que eles não gostavam das suas idéias. Pra ser sincero, comparado com o vampiro, o Slash simplesmente não tem graça alguma. Além disso, já que ele está carregando uma arma de contusão, por que o seu nome é Slash?
Eternal Champion
A criatura mística que juntou todo mundo; ele pode ressuscitar os mortos, mas por algum motivo desconhecido, só pode fazê-lo uma vez. Ele parece o Dr. Manhattan vestindo as roupas do Geese Howard.
O design dos personagens é decente, apesar de lhes faltar um pouco de personalidade. Um detalhe legal é que cada um deles tem uma pequena animação no começo de cada luta. Este provavelmente não é o primeiro jogo à contar com isso, mas isso foi tão no início do gênero que se não for o primeiro, com certeza foi pelo menos um deles. Um problema do jogo é que ele não tem realmente “arquétipos”, se comparado á jogos como Street Fighter. Não há o personagem “Ryu” ou o especialista em agarrões, ou o que só tem golpes de carga para você se basear, logo a jogabilidade é bastante diferente. Em contrapartida é legal que eles tenham resolvido ser mais originais; mas em compensação isso torna o jogo mais difícil de se jogar logo de cara.
O jogo segue mais o estilo de Street Fighter do que Mortal Kombat, tanto em jogabilidade quanto no estilo da arte. Você tem o layout padrão de seis botões, com três para socos e três para chutes, à menos que você esteja usando o controle de três botões, o que significa que você vai precisar ficar trocando entre socos ou chutes, e você realmente não vai querer isso. O jogo tem um controle bom o suficiente e os golpes básicos de cada personagem tem variedade suficiente, também – comparado ao Mortal Kombat, onde todo mundo tem o mesmo set de golpes básicos.
Ao invés de ir com opção mais óbvia de comandos ao estilo do Street Fighter para os golpes especiais, cada golpe especial tem um comando de carregar ou envolve apertar vários botões simultaneamente. Apesar dos movimentos de carga não serem difíceis de se fazer, é extremamente difícil de se apertar todos os três botões de soco ou todos os de chute ao mesmo tempo no controle do Mega Drive sem precisar manobrar a sua mão de uma forma estranha. E claro, se você de fato conseguir fazer os golpes especiais, graças ao estranho sistema que este jogo usa.
Cada personagem tem um símbolo de yin-yang ao lado da sua barra de energia, que é dividido em quatro partes. Isso representa a sua “força interior” e soltar golpes especiais gastam desta força. Se você não tiver o suficiente para executar o golpe, você precisar esperar ela recarregar. Na teoria isso é uma boa idéia, já que isso basicamente existe para evitar aqueles jogadores que ficam soltando magias sem parar. Mas o problema é que demora demais para a sua força interior recarregar. Você também pode fazer provocações para tirar a força interior do seu oponente, o que gasta um pouco da sua também. A IA do jogo adora fazer isso, te deixando quase sempre sem força.
Os golpes especias também funcionam de forma bem estranha se comparados aos agarrões, bolas de fogo e dragon punches presentes em vários outros jogos da época. Apesar de cada personagem ter alguns golpes especiais que causam dano direto, outros refletem projéteis, mexem com os controles do oponente, te tornam mais resistente à dano, enfraquecem seu inimigo para que ele cause menos dano, sugam a energia do oponente ou trocam o personagem escolhido completamente. Pelo menos eles estavam tentando fazer algo original. Entretanto, isso torna o jogo difícil de simplesmente se sentar e jogar quando comparado à outros jogos de luta, onde você consegue simplesmente escolher um personagem e seguir em frente.
Comparado ao Mortal Kombat, Eternal Champions é bem mais “econômico” em relação ao sangue. A única hora que você vê algum sangue é quando algum personagem está tonto. Não existem fatalities no sentido “tradicional” do termo, mas existem certos golpes de finalização que o jogo chama de “overkills”.
Overkills são feitos ao se acertar o seu oponente em certa parte da fase no seu último golpe no round final. Se você fizer corretamente, alguma parte do cenário vai acabar finalizando o oponente, como arremessando-o contra um ventilador gigante, ou ser metralhado por gângsters. Eles são bem mais estilosos que sangrentos, sendo apenas um Overkill envolve sangue realmente, apesar de alguns deles serem realmente brutais. Mas o problema é que você precisa derrotar seu oponente de uma forma tão precisa que basicamente você tem uma chance em um milhão de vê-los, se você não estiver realmente tentando executar algum deles.
Apesar do modo para dois jogadores ser divertido, já que permite que você aprenda como jogar com cada personagem, o modo single player é tão frustrante que nem sequer vale o esforço. Pra começar, a IA começa de forma totalmente injusta e vai daí pra pior, conseguindo rebater tudo que você faz até você achar um jeito de enganá-la. Se você perder uma luta neste modo, ao invés de ir para uma tela de continue como em qualquer outro jogo de luta já feito, você volta DUAS lutas atrás do personagem que te derrotou. E se você conseguir de alguma forma enganar a AI de todos os personagens, você ainda terá que enfrentar o Eternal Champion.
O Eternal Champion é, sem dúvida, um dos chefes mais apelões da história dos vídeogames. Igniz, Geese, Seth, eles nem se comparam à esse cara. Pra começar, ele tem força interior infinita, o que significa que ele pode usar golpes especiais sem parar, além de sugar o quanto ele quiser da sua, te provocando. Além disso, ele tem CINCO formas diferentes e você precisa vencer todas elas em um round. Você recupera energia entre cada forma, mas se você perder a luta contra ele, você recebe o final ruim e é chutado de volta para o menu principal. Se você conseguir vencê-lo, tudo que você ganha é algum texto contando o que o seu personagem fez em seguida.
Além do modo arcade padrão, existem vários outros, muitos mais que em Street Fighter II. O Practice Mode permite que você jogue uma luta contra o computador ou outro jogador, enquanto permite que você mude as configurações. Você pode definir o limite de tempo, número de rounds, quanto dano os personagens causam, velocidade e se você quer força interior ou não. O Battle Room é uma arena especial onde você pode escolher entre vários perigos que aparecem na fase, como serras que cortam o chão ou raios que sugam a sua força interior.
Há também um Training Mode, possivelmente o primeiro desse tipo em um jogo de luta. “Dexterity Spheres” é um minigame onde você tem que acertar o máximo de esferas voadores antes que elas te nocauteiem. No “Holo-Trainer” você tentar pontuar o máximo contra um inimigo holográfico do computador antes que ele tire toda a sua energia. E “Training Sphere” é basicamente uma grande esfera parada em que você bater para treinar os seus golpes básicos. Infelizmente, não existe um modo onde você pode enfrentar um inimigo estático para praticar golpes e combos nele. Ainda assim, a idéia é boa.
Apesar da jogabilidade não ser fantástica, a apresentação é ótima. As sprites dos personagens são enormes, quase o dobro do tamanho das sprites da versão para Mega Drive do SF2. Todas elas tem bastante sombreamento, dando à elas um look estilo HQ, que se encaixa bem no estilo visual do jogo. Entretanto, a qualidade da animação é um pouco inconsistente. Apesar de algumas animações serem muito boas, o fato dos personagens só reagirem à dano de uma única forma é algo que faz o jogo parecer barato.
As fases são bem bonitas também, com cada personagem tendo uma fase baseada em sua própria época. Mas é meio estranho que uma artista de circo lute em um templo chinês. A fase do Blade é uma das que mais impressiona, com um por do sol ao fundo que faz um bom uso da paleta de cores limitada do Mega Drive. Outro detalhe bacana é que cada vez que você liga o jogo, um personagem diferente faz alguma coisa para destruir o logo da SEGA… Há um quê de poético em ver um vampiro sugar a vida da SEGA…
O som, entretanto, é fraco em comparação com os ótimos gráficos. A música usa o mesmo tipo de driver que a maioria dos jogos desenvolvidos nos EUA, fazendo tudo soar barulhento e meio arranhado. Os personagens não resmungam ou gritam como os personagens de outros jogos, mas cada um tem um sample de voz para sua provocação, como “junk!” ou “coward!” Pelo menos as vozes são moderadamente nítidas para um jogo de Mega Drive.
De forma geral, Eternal Champions não é o melhor jogo de luta do Mega Drive, especialmente pelo fato dele também contar com versões dos jogos que os inspiraram em sua biblioteca. Ele tenta fazer algo só dele e isso é algo que merece respeito. O problema é que nem sempre isso funciona. Ainda assim, este não seria o final da série – além da versão para o Mega Drive, o jogo acabou sendo lançado no Virtual Console do Wii. Aparentemente haviam planos para que ele saísse em algumas coleções de jogos do Mega, mas isso só foi ocorrer na plataforma Steam para PC.
Entrevistas
Michael Latham – pelo site Sega-16, ele é o cara por trás de Eternal Champions e é leitura essencial para qualquer pessoa interessada na série.
Steven Lashower – outra entrevista do site Sega-16, que foca na publicidade em torno de Eternal Champions e ele ser vendido juntamente com o acessório SEGA Activator.
Scott Berfield – novamente no Sega-16, este é o cara por trás do conceito original do Eternal Champions e o design de alguns personagens. Suas respostas sinceras sobre o produto final podem surpreender você!
Livros-jogos e Quadrinhos (1994)
Além dos vídeogames, alguém achou uma boa idéia fazer livros-jogos de Eternal Champions. É algo como os livros Aventuras Fantásticas (Fighting Fantasy), que foram vendidos aqui no Brasil nos anos 90 e incluem alguns elementos de RPG. Foram lançados dois livros, The Cyber Warriors e Citadel of Chaos.
Em The Cyber Warriors, todos os personagens foram restaurados para suas épocas originais, de algum jeito. Em algum ponto de um futuro distante, uma IA renegada chamada de Overlord planeja substituir os lutadores por andróides, para que eles nunca consigam alcançar os seus destinos originais. Você é o mais novo campeão e é enviado para destruir os andróides e a fábrica onde eles estão sendo construídos. Em Citadel of Chaos, você precisa levar os outros nove com você até a fortaleza do Overlord, para destruí-lo de uma vez por todas.
Você começa criando um personagem, escrevendo os seus stats e então adicionando três pontos aos stats que preferir. Você também ganha três “golpes especiais” que aumentam a sua força de ataque, aumentam a sua defesa ou te curam, ao custo de um ponto de Força Interior.
Os combates funcionam escolhendo o ataque que deseja executar, seguir para aquele parágrafo e então rolar um dado de seis lados para ver se você consegue vencer a defesa do seu oponente. A defesa é feita da mesma forma, assim como rolar dados para executar certas ações, como empurrar Larcen para fora do caminho de um inimigo.
Em geral, se você gosta de livros como Aventuras Fantásticas e Lone Wolf, e é tão fã da série que você precisa ter toda e qualquer peça de merchandising lançada para ela, você deve ao menos procurar uma cópia em PDF. O livro não é totalmente injusto e conta com uma boa dose de não-linearidade, sendo que ainda por cima é legal ver os personagens terem algum senso de personalidade. Clique aqui para mais informações sobre os livros-jogos.
Há também uma longa série de histórias em quadrinhos, lançadas na antiga revista Sonic the Comic, que teve várias edições especiais dedicadas à Eternal Champions. Mais informações podem ser encontradas na Sonic the Comic Wiki. Outras informações e vários scans das páginas podem ser encontradas no 4th letter blog.
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