Por Sam Derboo em 11 de outubro de
Yie Ar Kung-Fu (イー・アル・カンフー) – Arcade, Commodore 64, Commodore 16, Amstrad CPC, ZX Spectrum, Acorn Electron, BBC Micro, Gameboy Advance, PlayStation, PlayStation 2, Nintendo DS, Xbox 360 (1985)
Entre todas as grandes e tradicionais empresas de arcades do Japão, quase todas elas tem sua grande e famosa franquia de jogos de luta. A Capcom tem o Street Fighter, a SNK tem o King of Fighters, a SEGA tem Virtua Fighter e a Namco tem Tekken – todos eles se tornaram símbolos de status para suas respectivas empresas – assim como foram verdadeiras máquinas de fazer dinheiro nos anos 90. Tudo que a Konami lançou para competir nesta área foi um punhado de títulos esquecíveis, como Dragoon Might, Deadly Arts, Rakuga Kids ou Teenage Mutant Ninja Turtles: Tournament Fighters. Mesmo assim, à muito tempo atrás, a Konmai venceu todos os seus concorrentes com Yie Ar Kung-Fu.
O jogo de luta mais popular dos anos 80 1980 tem uma jogabilidade bastante diferente da que se espera de um jogo de luta de hoje em dia. Ao lado a alavanca, só existem dois botões, um para socos e outro para chutes, respectivamente. Mas o protagonista Oolong (sim, o mesmo nome do chá) conhece uma gama de truques de artes marciais. Os golpes são executados ao se segurar o joystick em qualquer uma das oito direções enquanto se aperta um botão, permitindo que ele execute 16 manobras diferentes. Cada uma só conta um único frame de animação, mas se conectadas umas às outras por um jogador experiente, são capazes de desenhar belos katas na tela. Cada ataque é premiado com uma quantidade diferente de pontos quando acerta o inimigo. Apesar de Yie Ar Kung-Fu não contar com um sistema de combos como nos jogos modernos do gênero, os lutadores ficam tontos por alguns instantes quando acertados, deixando-os abertos para receber um golpe seguinte. Oolong tem mais chance de acabar recebendo essas cadeias de golpes, já que o jogo é bem específico em como ele ele deve acertar os seus adversários para que seus golpes sejam contabilizados e nem todas as direções dos golpes são realmente intuitivas. As defesas de Oolong também não são grande coisa: segurar o joystick na diagonal superior para trás faz ele parecer que está tentando se defender, mas isso não adianta de nada. Sua única forma de evitar os ataques é saltando rapidamente por toda a arena como um sapo.
Apesar de boa parte das mecânicas de Yie Ar Kung-Fu terem sido copiadas de Karate Champ, o jogo original de luta 1 contra 1 da Technos/Data East, ele conta com inovações numa área diferente: o Karateka Genérico 1 e o Karateka Genérico 2 eram as estrelas de praticamente todos os jogos de luta da época, mas Yie Ar Kung-Fu conta com um variado elenco de personagens que parece ter sido copiado diretamente dos filmes de de Hong Kong dos anos 70, cada um com suas próprias características e habilidades. Cada duelo é acompanhado da “música chinesa” mais estereotipada que você pode imaginar. O jogador sempre joga controlando Oolong, que busca vingança pelo seu pai, que foi morto pelo campeão do torneio. Telas de seleção de personagem eram algo que ainda iria surgir e lutas para dois jogadores humanos é um privilégio dos Karatekas Genéricos dos demais jogos.
Os oponentes são agrupados em dois níveis: no “Hot Fighting History,” Oolong desafia os cinco primeiros em frente à uma cachoeira. Após derrotá-los ele é promovido para à “Masterhand History,” onde outros seis inimigos mais fortes o aguardam em um templo budista. Poucos deles estão inclinados à um justo combate mano à mano; a maioria deles simplesmente tem como nome o nome das suas armas. Com isso, Pole enche o saco dos jogadores usando seu o bastão para bloquear a maioria dos seus golpes; Chain consegue atacar de longe através da tela e Club só é vulnerável à golpes baixos ou tentando-se adivinhar os seus golpes, graças ao escudo que eles sempre está segurando. Star e Fan, que são as primeiras personagens femininas num jogo de luta na história dos vídeogames, arremessam incontáveis projéteis contra Oolong, que felizmente pode interceptá-los com contragolpes bem calculados. Em algo que é incomum nos jogos de luta mais clássicos, não existe uma fase de bônus, mas a luta contra Feedle meio que serve como uma, já que ele ataca o jogador com um exército de clones, sendo que cada um deles morre com um único golpe.
Como na maioria dos jogos de luta criados antes de surgirem os sistemas de combo mais intrincados, Yie Ar Kung-Fu é um jogo onde se trata de se usar a melhor estratégia para enganar a inteligência artificial do oponente, ao invés de ser um ás do controle. Devido ao seu ritmo rápido, isso ainda se faz necessário, mas a luta se torna muito mais fácil depois que se descobre a fraqueza de cada oponente. Já o último chefe sofre uma grave síndrome de chefão da SNK, isso numa época em que a Shin Nihon Kikaku ainda focava em fazer shooters medíocres. Blues (Bruce?) nem sequer precisa de uma arma, já que ele consegue acabar com Oolong em segundos, usando apenas a velocidade de suas pernas.
Apesar da jogabilidade de Yie Ar Kung-Fu ter ficado para trás por causa do Street Fighter e de seus vários clones, o formato e visual já estava ali e continuaria presente nos jogos de luta japonese por muitos e muitos anos. Quando se joga Yie Ar Kung-Fu fica claro por que Billy Kane do Fatal Fury pode trazer seu maldito bastão para cada torneio ser ser desqualificado. Você também enfrenta um cara gordo e sem camisa que ataca voando de cabeça contra você – a inspiração óbvia do E. Honda do Street Fighter II – e até encontra uma mulher vestido um sexy vestido vermelho que arremessa leques, que fazem o design da Mai Shiranui da SNK parecer longe de uma coincidência. Um round perfeito também é recompensado aqui, com um sample de voz que diz “xie xie” (“obrigado”, em chinês).
Yie Ar Kung-Fu também teve uma grande repercussão no resto do mundo. Conversões do arcade foram feitas para todos os computadores importantes de 8-bit da Europa, por cortesia da Imagine: Estas foram as versões para Commodore 64, ZX Spectrum, Amstrad CPC e BBC Micro. Obviamente que todas elas sofreram algum tipo de downgrade nos gráficos e controles, já que estes só tinham suporte para joysticks com apenas um botão. Cada versão também perdeu algum inimigo: A do ZX Spectrum perdeu Chain, enquanto ele e Fan estão ausentes na versão para o Amstrad. As versões para o Acorn Electron e BBC Micro – que são quase idênticas, exceto pela paleta de cores maior no Micro – não contam com Club e Tonfun. Feedle não está presente em nenhuma delas, apesar das versões para Electron/BBC Micro darem o nome dele para as suas fases de bônus, onde ele joga coisas em Oolong de fora da tela, ao invés de ficar se clonando. Algumas delas, principalmente as do Spectrum e do Electron/BBC, são quase injogáveis. E como sempre, a versão do Spectrum não tem música. A versão do C64 é a melhor delas, mas substitui o visual cartunesco por um outro mais realista. Há também uma versão simplificada para o C16 (Plus/4 na Europa), que usa as mesmas sprites do C64, mas tem cenários de resolução menor, não tem música e controles piores.
Versões mais fiéis só apareceram mais tarde em coleções com a Konami Arcade Classics do PS1 e a Konami Classic Series: Arcade Hits para o DS, assim como o Oretachi Game Center Zoku: Yie Ar Kung-Fu para o PlayStation 2. Estas diferem da versão arcade apenas em alguns detalhes, como interface e resolução de tela. A versão para DS tenta esconder sua resolução mais baixa com uma espécie bizarra de “half-interlacing”, que faz o jogo ficar horrível nos screenshots. A segunda tela é usada para mostrar o folheto de instruções original do arcade.
Mas a mais interessante é a versão para Game Boy Advance presente na Konami Collector’s Series: Arcade Advanced, que é quase idêntica à original, compensando por sua resolução menor com um HUD transparente. Ela conta com um novo cenário de fundo exclusivo e dois personagens secretos, que podem ser destravados ao se usar o código clássico da Konami. Bishoo parece ter sido modelada à partir da oponente que arremessa facas da continuação para MSX, enquanto Clayman é um gigante feito de barro. O jogo também ficou bem mais fácil por terem expandido as áreas de acerto de golpes nos oponentes. Mas o maior destaque da versão para GBA é seu modo versus via system link, que permite que os jogadores finalmente possam controlar os outros personagens.
Yie Ar Kung-Fu também foi lançado na Xbox Live Arcade em 2007. Esta nova versão não conta com as melhorias da versão para GBA, mas tem gráficos de fundo redesenhados, sprites com retoques em alta definição e música remixada, além de permitir que se mude para os gráficos originais em tempo real. Um ano mais tarde o jogo também chegou para os celulares. O título não está mais disponível para download, ams de acordo com um review da época, a inteligência artificial arruinou o jogo, de qualquer forma.
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